*Por Alaor Vieira

Naquele tempo não havia muitas opções de Lazer lá na roça para as crianças. Até que se ajeitava bem porque além das traquinagens normais, quando se juntava um grupo, era diversão garantida.

Quem já brincou de passar anel? Gente de Deus, era muito emocionante quando era vez de passar anel nas mãos das meninas. Afora isso, tinha brincadeiras do cantinho. "Me dá um cantinho. Vai pedir seu vizinho". Era muito bom. Brincadeira de bete. A gente soava muito debaixo daquele sol em busca das bolinhas. Biloca e peão também era muito divertido. Agora, eu te garanto que não havia nada melhor do que nadar no poço do rio. 

Para os adultos, entretanto, sobrava pouca coisa. Meu pai era apaixonado no jogo do truco. Quando aparecia parceiros a festa estava pronta. Eu gostava de ajeitar tentos diferentes. Tinha o tal do olho de cabra, aquelas sementinhas em preto e vermelho, parecendo a bandeira do Flamengo.

Tinha semente de tamarindo. Tinha uma cabaça cheia delas. Semente de araticum também. Contudo, o tradicional mesmo era os grãos de milho. Daí a expressão, seis míi ladrão.

Certa feita, passando pelo val do córrego do Lajeado, eu deparei com umas pedrinhas bem ajeitadinhas, bonitinhas. Então, eu juntei algumas, lavei bem e levei pro meu acervo. Naquela noite, o meu pai e uns amigos já tinham um programado um jogo de truco, então aproveitei e pus na mesa a novidade, as pedrinhas do córrego Lajeado. Um garoto, filho do vizinho, que estava em visita, aproximou-se da mesa, acariciou as pedrinhas e soltou o fiasco: "De quem que é esses míi aqui?"

*Alaor Vieira, escritor, poeta, imortal da ARLAO (Academia Rioverdense de Letras Artes e Ofícios).