Nos últimos dois meses, a aviação agrícola brasileira desempenhou um papel de extrema relevância no combate aos incêndios que devastaram regiões do Pantanal, São Paulo e Goiás. De acordo com dados preliminares do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), aproximadamente 15,8 milhões de litros de água foram lançados por 28 aeronaves em operações coordenadas entre órgãos oficiais, usinas e produtores rurais.

No Pantanal, epicentro da maioria das operações, 17 aeronaves foram mobilizadas, sob a coordenação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e dos governos do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Esses aviões lançaram 14,38 milhões de litros de água para apoiar mais de 200 brigadistas e bombeiros que atuavam em solo, em uma operação intensa para conter as chamas que ameaçavam a biodiversidade da região.

Em São Paulo, a situação também exigiu respostas rápidas e eficazes. Pelo menos 11 aviões agrícolas foram acionados para combater incêndios em lavouras e áreas de preservação, especialmente após um aumento significativo dos focos de fogo na última semana. As aeronaves, contratadas tanto pelo governo estadual quanto por usinas, despejaram cerca de 760 mil litros de água em diversas frentes, auxiliando os esforços das brigadas terrestres.

Goiás não ficou de fora dessa luta contra o fogo. Empresas aeroagrícolas que atuam no estado contabilizam o lançamento de aproximadamente 540 mil litros de água em lavouras, principalmente em áreas de palhada de milho, e em reservas ambientais nas propriedades rurais. A ação envolveu 15 aeronaves, que trabalharam intensamente para conter os incêndios e proteger tanto as colheitas quanto as áreas preservadas.

A importância da aviação agrícola no combate aos incêndios vai além dos números. Cerca de 90% das operações são realizadas em parceria com brigadistas em solo. Nesses casos, o líder da equipe terrestre solicita o apoio aéreo e coordena com o piloto o local exato do lançamento da água. Essa colaboração é fundamental para reduzir o avanço do fogo e permitir que os brigadistas possam acessar os focos com segurança e eliminar as chamas de forma eficaz.

Entretanto, os aviões agrícolas também desempenham um papel importante em situações onde o acesso terrestre é inviável, como em encostas e terrenos acidentados. Nessas ocasiões, as aeronaves operam sozinhas, criando corredores de fuga para a fauna cercada pelas chamas ou controlando a linha de fogo em áreas onde as equipes terrestres ainda não conseguiram chegar.

O modelo de operação conjunta entre aviões e brigadistas segue padrões internacionais e vem sendo adotado no Brasil há mais de três décadas. Inicialmente empregado em reservas naturais, o uso da aviação agrícola se expandiu para lavouras, onde também apoia as equipes de brigadistas das fazendas e usinas. A parceria com o ICMBio começou em 2007, mas o setor aeroagrícola já operava desde os anos 1990 com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e, em nível estadual, com os corpos de bombeiros.

O combate aéreo a incêndios é uma prerrogativa do setor aeroagrícola desde os anos 1960, e em 2022, uma Lei Federal incluiu os aviões agrícolas nas políticas de combate aos incêndios florestais. 

Os dados finais sobre a atuação da aviação agrícola na atual temporada de incêndios ainda estão sendo compilados pelo Sindag e devem ser divulgados até o final de setembro, quando a temporada normalmente se encerra. Até lá, o esforço contínuo das aeronaves e das equipes de terra permanece para conter as chamas e mitigar os danos ambientais e econômicos que os incêndios podem causar.