O avanço no controle de nematoides, pragas microscópicas que destroem o sistema radicular das plantas e comprometem a produção agrícola, tem sido um dos principais desafios do setor agrícola. Responsáveis por perdas anuais de até 15% na produção global, os nematoides podem causar danos severos em culturas de alta relevância econômica, como soja, milho, café e hortaliças. Com o manejo inadequado, os prejuízos em algumas regiões ultrapassam 50% da colheita. No Brasil, estima-se que as perdas totais provocadas por esses patógenos somam cerca de R$ 374 bilhões na última década, de acordo com a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN). A entidade estima que os prejuízos totais à agricultura nacional podem atingir R$ 870 bilhões nos próximos dez anos - equivalente a uma safra inteira por década - caso medidas eficazes não sejam adotadas.

Em resposta a esse desafio, pesquisadores e empresas do setor vêm investindo em soluções biológicas que oferecem controle eficiente das pragas e, ao mesmo tempo, promovem a sustentabilidade no manejo agrícola. Entre essas inovações, destaca-se o desenvolvimento do Reli3ver, pela Alltech Crop Science, um bionematicida que utiliza uma cepa exclusiva da bactéria Bacillus subtilis, projetada para atacar os nematoides diretamente no solo e proteger o sistema radicular das plantas.

O produto, apresentado no 39º Congresso Brasileiro de Nematologia em Foz do Iguaçu (PR), foi desenvolvido com foco na integração de três fatores fundamentais: resistência, eficiência e viabilidade. Ao contrário de soluções químicas tradicionais, que podem impactar negativamente a microbiota do solo e a biodiversidade, o Reli3ver promove o equilíbrio biológico, tornando o solo mais resistente e sustentável a longo prazo. “O produtor rural está buscando, cada vez mais, soluções que permitam controle das pragas e contribuam para a saúde geral do solo. O manejo biológico é o caminho mais promissor”, explica Mayra Soares, gerente técnica da Alltech Crop Science e especialista em Nematologia.

Por que os nematoides são um problema crescente

Os nematoides são parasitas que se alimentam das raízes das plantas, causando feridas que facilitam a entrada de fungos e outras doenças. Entre as espécies mais prejudiciais à agricultura brasileira estão Meloidogyne, Pratylenchus e Heterodera. As infestações costumam ser silenciosas nos primeiros ciclos de cultivo, e quando os sinais visíveis surgem – como amarelecimento das folhas e baixo desenvolvimento das plantas – os danos já são severos.

Um estudo recente da Embrapa indicou que em áreas de cultivo intensivo de soja e milho no Cerrado, a população de nematoides dobrou nos últimos cinco anos. Esse aumento deve-se a fatores como o uso contínuo das mesmas áreas para plantio e a redução da rotação de culturas. Para agravar a situação, a migração dos nematoides para novas áreas de cultivo, como o Norte e o Nordeste, expande o problema para outras fronteiras agrícolas do país.

“O manejo dos nematoides exige uma abordagem integrada. Além do controle biológico, o produtor precisa adotar boas práticas agrícolas, como a rotação de culturas e o uso de cultivares resistentes. O foco deve ser em técnicas sustentáveis e de longo prazo”, afirma a engenheira agrônoma Andressa Cristina Zamboni Machado, pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) e pós-doutora em Nematologia.

O manejo integrado e os bionematicidas

O uso de bionematicidas é uma das ferramentas mais promissoras no controle de nematoides. Essas soluções biológicas atuam diretamente no solo, atacando os parasitas de forma natural e sem causar danos às culturas. O Reli3ver, por exemplo, se destaca pelo seu mecanismo de ação: o endósporo da bactéria Bacillus subtilis age como uma estrutura de resistência, protegendo as plantas em ambientes adversos. A tecnologia por trás do produto utiliza a liofilização, que retira a água do microrganismo, preservando sua viabilidade e permitindo que ele seja reativado no momento da aplicação, garantindo eficácia máxima.

“O uso de bionematicidas tem se mostrado eficaz no controle dos nematoides e na promoção do crescimento das plantas. A combinação de controle biológico com técnicas de manejo integrado pode resultar em aumentos expressivos de produtividade”, afirma Soares. Ela reforça que, além da redução da população de nematoides, esses produtos proporcionam um melhor enraizamento, o que se traduz em maior absorção de nutrientes e água pelas plantas.

Um exemplo de sucesso foi observado em estudos conduzidos na cultura do tomate, onde a aplicação de Reli3ver reduziu a presença de Meloidogyne incógnita em 44% no solo, resultando em um incremento de 1.515 kg/ha na produtividade. Na soja, a massa fresca de raízes aumentou em 24% após 60 dias de uso do bionematicida, em comparação com áreas sem tratamento biológico. Já na cultura de alface, a redução de nematoides chegou a 62,5% em apenas 15 dias, demonstrando a eficiência rápida do manejo.

Perspectivas futuras para o controle biológico de nematoides

O mercado de biológicos no Brasil está em expansão, e o segmento de bionematicidas é um dos que mais cresce. Segundo a consultoria Spark, o mercado de produtos biológicos no Brasil movimentou cerca de R$ 1,7 bilhão em 2022, com uma taxa de crescimento anual superior a 20%. Com a demanda crescente por produtos mais sustentáveis e a maior conscientização sobre os impactos ambientais dos defensivos químicos, soluções como o Reli3ver têm um papel central na transição para um modelo agrícola mais equilibrado.

“O controle biológico dos nematoides é uma necessidade para garantir a sustentabilidade da agricultura no Brasil. As perdas causadas por esses parasitas são extremamente altas e exigem uma abordagem inovadora e eficiente, como o uso de biológicos”, conclui a especialista Andressa Machado.

O manejo de nematoides, especialmente em áreas de cultivo intensivo, exige estratégias que integrem controle biológico, escolha adequada de cultivares e boas práticas agrícolas. O futuro da agricultura brasileira depende de inovações que permitam conciliar alta produtividade com a preservação dos recursos naturais, e o uso de bionematicidas, como o Reli3ver, promete ser uma peça-chave nessa transformação.