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,16/09/2024

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Secas atrasam recuperação de madeira em florestas manejadas

Secas causadas pelo El Niño atrasam em 20 anos a recomposição de estoques de madeira em florestas manejadas na Amazônia, aponta estudo da Embrapa.


Secas atrasam recuperação de madeira em florestas manejadas Ramal de acesso à floresta da Fazenda Iracema, no município de Lábrea (AM) / Fotos: Marcus Vinício D'Oliveira

As secas sucessivas, intensificadas pelo fenômeno climático El Niño, têm causado um impacto severo na dinâmica de recuperação das florestas manejadas na Amazônia. Um estudo recente da Embrapa, realizado ao longo de duas décadas, evidenciou que a reposição dos estoques de madeira comercial em áreas exploradas foi significativamente atrasada, comprometendo o ciclo previsto para o manejo florestal sustentável.

O estudo, que analisou uma área de 600 hectares na fazenda Iracema, no município de Lábrea (AM), entre 2000 e 2022, revelou que a regeneração completa da biomassa florestal ocorreu dentro do esperado, atingindo níveis semelhantes aos observados antes do corte. No entanto, a recomposição dos estoques de madeira comercial extraída mostrou-se parcial, um cenário atribuído à alta mortalidade das árvores maiores, que são as principais fornecedoras de madeira de valor comercial.

De acordo com Marcus Vinício Neves d’Oliveira, pesquisador da Embrapa Acre e coordenador do estudo, a expectativa inicial era de que a floresta recuperasse seu volume de madeira comercial dentro de um período de 20 a 25 anos, conforme as práticas de manejo de impacto reduzido adotadas na região. "Contudo, o crescimento das árvores foi muito mais lento do que o previsto, resultando em uma floresta mais jovem e com predominância de árvores menores", destacou o especialista.


O fenômeno do El Niño, que causa uma redução significativa nas chuvas e prolonga os períodos de estiagem, foi identificado como um dos principais fatores que retardaram a recuperação dos estoques de madeira. A pesquisa observou que, somente após oito anos do corte inicial, a floresta começou a exibir sinais de recuperação compatíveis com as expectativas. No entanto, as taxas de mortalidade de árvores voltaram a subir em períodos de seca extrema, como ocorreu nos anos de 2005, 2010/2011, 2015/2016 e 2018, anos em que o El Niño se manifestou com maior intensidade.

Esses eventos climáticos extremos comprometeram o ritmo de crescimento das árvores remanescentes e afetaram o ingresso de novas plantas, contribuindo para um ciclo de manejo florestal mais longo e incerto. A redução do número de árvores grandes, essenciais para a exploração madeireira, indica que a floresta estudada ainda precisará de cerca de 20 anos adicionais para recuperar o volume de madeira comercial que existia antes da exploração.

O impacto prolongado das secas na dinâmica florestal reforça a necessidade de revisitar e ajustar as práticas de manejo adotadas nas florestas amazônicas. De acordo com Evaldo Muñoz, pesquisador da Embrapa Florestas e coautor do estudo, "é imperativo que novos estudos sejam conduzidos para entender melhor os efeitos de longo prazo dos eventos climáticos atípicos na regeneração florestal". A continuidade da pesquisa é vista como crucial para a adaptação das estratégias de manejo e para a preservação da sustentabilidade das florestas manejadas.

As informações coletadas ao longo desta pesquisa serão compiladas em um banco de dados, que será disponibilizado para pesquisadores, profissionais da área florestal e demais interessados, por meio do Repositório de Dados de Pesquisa da Embrapa (Redape). O estudo contribui para uma compreensão mais ampla dos desafios enfrentados pela regeneração florestal em um cenário de mudanças climáticas, destacando a importância de políticas de manejo adaptativo que considerem a crescente imprevisibilidade dos padrões climáticos na Amazônia.




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