Setor pecuário brasileiro debate a Lei Antidesmatamento Europeia
O setor pecuário brasileiro vê a Lei Antidesmatamento europeia como uma oportunidade para expandir a sustentabilidade e conquistar novos mercados globais.
O Brasil, principal exportador mundial de carne bovina, encontra-se diante de um novo marco regulatório com a implementação da Lei Antidesmatamento da União Europeia (European Union Deforestation-Free Regulation - EUDR). Com vigência prevista para 2025 e 2026, a nova lei exigirá comprovações rígidas de que os produtos importados pelo bloco europeu não contribuam para o desmatamento, impondo à pecuária brasileira o desafio de adaptação em busca da permanência e expansão nos mercados internacionais.
Durante o evento “Diálogo Inclusivo – Oportunidades e Soluções para o Produtor Atender ao EUDR”, promovido pela Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (MBPS) na última quarta-feira (30), especialistas, líderes do setor e autoridades destacaram a relevância de adotar práticas ambientais robustas para garantir competitividade e abrir portas em mercados cada vez mais rigorosos.
Sustentabilidade como Diferencial Competitivo
Com um rebanho superior a 230 milhões de cabeças e um histórico de práticas de monitoramento ambiental, o Brasil se encontra na vanguarda global quando se trata de sustentabilidade na pecuária. Contudo, para que o país atenda plenamente aos requisitos do EUDR e de outras regulamentações emergentes, são necessárias adaptações importantes em sua cadeia produtiva. Iniciativas como o programa “Boi na Linha,” do Imaflora, e a plataforma AgroBrasil+Sustentável, do Governo Federal, foram discutidas no evento como ferramentas que podem auxiliar os produtores no cumprimento das normas, reunindo dados e promovendo apoio técnico.
Patrícia Arantes, da Sociedade Rural Brasileira, destacou a importância da cooperação entre produtores e instituições do setor para que as novas exigências sejam atendidas de forma eficiente e benéfica para todos os envolvidos. “A solução dialogada, focando na cooperação entre os elos da cadeia, é o ponto central para garantir a prosperidade econômica do agro,” enfatizou Arantes.
EUDR: Uma Tendência Global
Embora o EUDR seja, no momento, uma regulamentação específica do mercado europeu, os especialistas presentes no evento alertaram para a tendência global de regulamentação ambiental rigorosa, especialmente nos setores ligados à agropecuária. Segundo Clecivaldo Ribeiro, da Secretaria de Inovação do Ministério da Agricultura, o Brasil deve se preparar não apenas para o mercado europeu, mas para qualquer mercado que priorize práticas sustentáveis. "Estamos caminhando para um futuro onde a sustentabilidade será uma exigência universal, e o Brasil já possui um histórico de práticas que pode atender a essa demanda global,” observou Ribeiro.
Marina Guyot, do Imaflora, ressaltou que a preservação ambiental tornou-se um ativo valioso para a pecuária brasileira, com potencial de agregar valor ao produto final e fortalecer o posicionamento do país nos mercados externos. “Precisamos valorizar o ativo ambiental do Brasil. A sustentabilidade precisa ser vista como um valor agregado para nossas exportações,” afirmou.
Medidas Práticas para o Cumprimento do EUDR
Além de exigências de rastreabilidade e conformidade ambiental, o EUDR impõe a necessidade de adaptação de fornecedores indiretos, bem como suporte técnico para produtores que ainda precisam alinhar suas práticas às novas regulamentações. No evento, foram citadas como boas práticas o Guia CICB de Matérias-Primas, que estabelece padrões de monitoramento e rastreabilidade para o setor de couro, e outras soluções tecnológicas que centralizam dados e ampliam a transparência da cadeia produtiva.
Ao adotar os princípios do EUDR, o Brasil poderá solidificar sua posição como fornecedor sustentável e ampliar sua competitividade global. Com um mercado cada vez mais exigente em termos de sustentabilidade, o país tem a oportunidade de liderar pela prática e pela inovação, assegurando o futuro de sua pecuária no cenário internacional.
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