Genômica avança e Brasil domina genética para bovinos tropicais
Brasil exporta tecnologia de genética para bovinos leiteiros, destacando-se em inovação para melhorar a produtividade em climas tropicais.
A genética avançada para bovinos leiteiros brasileiros, focada no desenvolvimento para climas tropicais, está ganhando terreno em mercados internacionais. Com a liderança da Embrapa e da Associação Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), o Brasil agora exporta tecnologia de ponta para países da América Latina, permitindo aos pecuaristas dessas regiões otimizar a produção leiteira com técnicas de avaliação genômica. Esse avanço fortalece a posição do país como referência global em genética bovina tropical, atraindo crescente interesse internacional.
A avaliação genômica, que vem sendo aplicada desde 2018 no Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL), tornou-se o carro-chefe da inovação genética brasileira. Esse método aumenta a precisão na identificação das características desejáveis dos animais, especialmente em animais jovens, permitindo um avanço mais rápido e com menor custo do que os métodos tradicionais. De acordo com o pesquisador da Embrapa Marcos Vinícius G. B. Silva, a técnica dobra a velocidade do melhoramento genético e reduz os custos em mais de 50%, fatores que a tornaram altamente atrativa para mercados como México, Bolívia e Colômbia. "Exportar nossa genética é uma conquista e coloca o Brasil como líder em pecuária leiteira adaptada ao clima tropical", afirmou Silva.
Sequenciamento Genético: A Nova Era do Melhoramento
No centro dessa revolução está o sequenciamento do DNA bovino, que permite identificar mais de 5 milhões de SNPs (polimorfismos de nucleotídeo único) específicos para raças zebuínas. Cada SNP representa um marcador molecular que aponta para características genéticas, como ganho de peso, resistência a parasitas, adaptação ao calor e eficiência reprodutiva, fatores cruciais para a produtividade em climas tropicais. Marco Antonio Machado, outro pesquisador da Embrapa, enfatiza que esse processo elimina a dependência das características fenotípicas, ou seja, aquelas observáveis no animal, como peso e estrutura física. "Com a avaliação genômica, alcançamos uma seleção mais eficiente, baseada no genótipo, o que possibilita um melhor aproveitamento das características desejadas de forma rápida e precisa", destaca Machado.
Esse trabalho requer uma infraestrutura tecnológica robusta. A Embrapa, em parceria com o Laboratório Multiusuário de Bioinformática, criou uma estrutura que processa milhões de dados, envolvendo pedigree e informações genômicas dos animais. Guilherme Moura e Matheus Machado, especialistas em bioinformática, explicam que essa estrutura permite um processamento ágil e seguro dos dados enviados pelos países parceiros. "Ao reunir tecnologia e ciência de ponta, garantimos que os dados genômicos retornem aos produtores em forma de informações precisas e úteis para a criação", pontua Moura.
Crescimento na América Latina: Expansão para Novos Mercados
O sucesso do PNMGL já atraiu clientes em países como Bolívia e México, onde as primeiras avaliações genômicas internacionais foram entregues em 2024. Agora, a Embrapa se prepara para expandir esses serviços para outros 11 países latino-americanos, incluindo Colômbia, Costa Rica, Panamá e República Dominicana. Até o fim de 2024, a Embrapa estima que 350 rebanhos estrangeiros, totalizando cerca de 3 mil animais, passarão pelo processo de avaliação genômica, estabelecendo um modelo de melhoramento genético específico para regiões tropicais.
O presidente da ABCGIL, Evandro Guimarães, destaca que o crescente interesse internacional reflete o reconhecimento de um trabalho de excelência, que teve início em 1985 e se consolidou com o uso da genômica. "A demanda por nossa tecnologia é um reflexo do sucesso do PNMGL, que hoje é referência mundial em genética bovina adaptada ao clima tropical. Esse reconhecimento internacional é um marco para o Brasil e para os produtores latino-americanos, que ganham acesso a uma tecnologia que alia precisão e custo-benefício", afirma Guimarães.
Para facilitar o acesso a essas informações, a Embrapa e a ABCGIL lançaram um aplicativo que permite aos pecuaristas verificar em tempo real os ganhos genéticos, certificados de avaliação genômica e índices de desempenho dos rebanhos. "Essa ferramenta amplia o alcance da tecnologia, permitindo que pecuaristas em todo o mundo utilizem dados genômicos para aprimorar seus rebanhos", acrescenta Guimarães.
Impacto Econômico e Projeções Futuras
A expansão da avaliação genômica no mercado internacional fortalece a economia brasileira, ampliando as exportações de conhecimento e tecnologia. Estima-se que o custo da avaliação por animal possa variar até US$ 38, um valor acessível para pecuaristas que buscam maximizar a produtividade com base em dados genéticos. Além de promover o avanço tecnológico, a exportação da genética bovina destaca o Brasil como um dos principais exportadores de tecnologias para a pecuária de leite, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da bovinocultura nos trópicos.
Com a infraestrutura de bioinformática e análise genômica cada vez mais robusta, técnicos da ABCGIL e da Embrapa esperam que o serviço continue a atrair interesse de novos mercados nos próximos anos. A perspectiva é que a demanda pela genética tropical brasileira cresça de maneira exponencial, estimulando não só a economia, mas consolidando o papel do Brasil como líder em inovação no agronegócio global.
A trajetória do PNMGL, marcada por décadas de pesquisa e aprimoramento genético, é hoje uma das mais bem-sucedidas na história da pecuária leiteira tropical. À medida que mais países se beneficiam da tecnologia, a genética bovina brasileira se transforma em um ativo estratégico, impulsionando o crescimento da produção de leite de forma adaptada, eficiente e sustentável.
O quadro abaixo compara os dois modelos de melhoramento: o tradicional (antes da avaliação genômica) e como a seleção genômica otimizou o processo:
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