A cadeia produtiva da carne no Brasil, cada vez mais visada pelas demandas globais, busca consolidar práticas de rastreabilidade e sustentabilidade que garantam sua competitividade internacional e adaptação às exigências ambientais. Durante a 2ª edição dos Diálogos Boi na Linha, realizada em Cuiabá, os principais atores do setor discutiram os desafios e as estratégias que visam elevar a pecuária brasileira a um novo patamar de transparência e responsabilidade socioambiental.

O Programa Boi na Linha e a Governança do Setor

Iniciativa do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), o Programa Boi na Linha, lançado em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), vem desde 2019 incentivando práticas de rastreabilidade na cadeia da carne bovina, especialmente na Amazônia Legal. A intenção é combater irregularidades e promover o cumprimento do Código Florestal, fortalecendo o compromisso ambiental e social do setor.

Danielle Schneider, coordenadora de rastreabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), destacou que o Brasil exporta aproximadamente 28,5 milhões de cabeças de gado por ano, sendo 54% destinados à China e uma parte significativa enviada para a Europa, em cortes de alto valor. Para ela, a rastreabilidade não é apenas uma exigência técnica, mas uma porta de entrada para mercados cada vez mais criteriosos.

Sustentabilidade como Caminho

Lisandro Inakake, gerente de Cadeias Agropecuárias do Imaflora, enfatizou a importância do setor na economia brasileira e os desafios para reverter a visão negativa que ainda persiste em torno da pecuária. “A pecuária pode ter impacto neutro ou positivo em relação ao carbono, o que mostra o quanto o setor pode se adequar aos padrões de sustentabilidade,” pontuou Inakake, destacando a necessidade de ampliar as iniciativas do Boi na Linha e adotar práticas que contribuam para uma cadeia produtiva sustentável e inclusiva.

Inclusão e Adaptação: Os Desafios para Produtores

A adaptação às novas exigências globais não é simples, especialmente para pequenos pecuaristas, que muitas vezes têm dificuldades em se adequar aos requisitos de rastreabilidade. Paulo Bellincanta, presidente do Sindifrigo e diretor Comercial do Grupo Frialto, ressaltou a importância de critérios viáveis para todos os produtores, sem prejudicar a competitividade. Da mesma forma, Bruno de Jesus Andrade, diretor de Operações do Instituto Mato-Grossense da Carne (IMAC), enfatizou que excluir pequenos produtores do mercado formal prejudica o desenvolvimento do setor, já que eles acabam vendendo para empresas sem controle rigoroso, limitando os investimentos em melhorias.

A relevância da rastreabilidade sanitária e ambiental também foi discutida por Fábio Medeiros, diretor de Parcerias da The Nature Conservancy (TNC), que sugeriu um equilíbrio entre os investimentos em monitoramento e os incentivos para os pequenos produtores. Medeiros destacou o valor agregado que a rastreabilidade traz para o mercado e a necessidade de apoiar os pequenos pecuaristas com incentivos que garantam sua inclusão na cadeia formal.

TAC da Carne e o Fortalecimento da Regularização

No evento, Rafael da Silva Rocha, procurador da República e coordenador do Grupo de Trabalho Amazônia Legal, apontou o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC da Carne) como uma ferramenta central para a regularização dos frigoríficos na Amazônia Legal. Rocha defendeu a importância de expandir o diálogo entre os produtores e as autoridades para atingir os objetivos comuns da cadeia da carne, focando na inclusão de todos os atores no processo de regularização e na busca por uma pecuária sustentável.

Diálogos que Fortalecem a Cadeia Produtiva

Lisandro Inakake sublinhou a importância dos Diálogos Boi na Linha como um espaço de troca entre os diversos elos da cadeia produtiva da carne, permitindo que as necessidades e desafios locais sejam compreendidos e integrados às ações do programa. O encontro reforçou a ideia de que a sustentabilidade só será alcançada com a participação ativa de todos os envolvidos, desde grandes frigoríficos até pequenos pecuaristas.

“Esse segundo encontro foi fundamental para promover uma conexão entre os produtores de Mato Grosso e as instituições, possibilitando uma adaptação das práticas do Programa Boi na Linha com uma visão que considera a realidade local,” afirmou Inakake. Ele reforçou que, ao longo de cinco anos, o programa tem mostrado como práticas de exclusão podem gerar efeitos negativos na cadeia, tornando essencial o diálogo constante para garantir uma agenda positiva para a pecuária nacional.

Programa Boi na Linha: Compromissos Socioambientais

Desde seu lançamento em 2019, o Programa Boi na Linha atua na Amazônia Legal, conectando produtores, frigoríficos e varejistas em uma rede de compromisso com a sustentabilidade e transparência. Por meio de uma plataforma online, o programa disponibiliza dados e informações de forma acessível, promovendo uma cadeia livre de irregularidades e irregularidades socioambientais.

Além do MPF, o programa conta com apoio da Abiec e financiamento da União Europeia, da Moore Foundation, Partnerships for Forests, NWF, Instituto Clima e Sociedade e Great for Partnerships do Reino Unido, todos engajados em garantir o desenvolvimento sustentável da cadeia da carne no Brasil.

Imaflora: Um Histórico de Sustentabilidade

O Imaflora, fundado em 1995, trabalha na promoção de práticas que conciliam conservação ambiental e desenvolvimento econômico. O instituto oferece assistência técnica, certificações e serviços de ESG (ambiental, social e governança), atuando diretamente no campo e em diversas cadeias produtivas, incluindo as agropecuárias, de sociobiodiversidade e florestais.

A regularização e a transparência são pilares essenciais para que a cadeia da carne brasileira se fortaleça no mercado global, atendendo tanto às demandas dos consumidores quanto aos critérios de sustentabilidade que regem o setor agropecuário mundial. A partir de iniciativas como o Boi na Linha, o setor dá passos decisivos rumo a uma pecuária mais alinhada às necessidades do futuro.