Setor agropecuário critica Carrefour por boicote à carne do Mercosul
A decisão do Carrefour França de interromper a comercialização de carne do Mercosul gerou reações de governos e entidades do setor agropecuário, que defendem a qualidade e sustentabilidade da produção sul-americana.
A varejista Carrefour anunciou, por meio de seu CEO na França, Alexandre Bompard, que não comercializará mais carne proveniente dos países do Mercosul — Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A decisão foi comunicada em uma carta enviada a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA), em meio às preocupações dos agricultores franceses sobre o impacto do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
Segundo o comunicado, o Carrefour França assumiu o compromisso de não adquirir carnes desses países, "independentemente dos preços e quantidades". A decisão visa apoiar os produtores franceses, que frequentemente expressam receio diante da concorrência de produtos sul-americanos.
Reações no Brasil
No Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) repudiou a decisão do Carrefour França em nota oficial. O órgão destacou a qualidade da carne brasileira e os esforços do país para cumprir rigorosos padrões internacionais de sustentabilidade e rastreabilidade.
"O Brasil possui um sistema de certificação robusto, reconhecido globalmente, e as práticas de nossa cadeia produtiva são compatíveis com as exigências mais avançadas em sustentabilidade e bem-estar animal. A decisão anunciada ignora os avanços da nossa produção pecuária", declarou o Mapa.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) também lamentou a decisão e classificou a atitude como uma "visão distorcida e protecionista". A entidade ressaltou que a carne brasileira está presente em mais de 150 mercados globais, com reconhecimento por sua qualidade e segurança.
Reações nos demais países do Mercosul
Até o momento, não há pronunciamentos oficiais das principais entidades representativas da pecuária na Argentina, Paraguai e Uruguai sobre a decisão do Carrefour França. Contudo, governos e associações desses países têm historicamente defendido a qualidade de suas carnes e sua adequação aos padrões internacionais.
No Uruguai, o Instituto Nacional de Carnes (INAC) publicou recentemente dados que demonstram a alta rastreabilidade e sustentabilidade de sua cadeia produtiva, mas não se posicionou oficialmente sobre o caso do Carrefour França. Da mesma forma, entidades argentinas e paraguaias ainda não emitiram comunicados específicos sobre a situação.
Sustentabilidade e qualidade na produção do Mercosul
Os países do Mercosul, incluindo o Brasil, têm investido continuamente em práticas de produção sustentável. No caso brasileiro, programas como o Carne Angus Certificada são exemplos de iniciativas que elevam os padrões de qualidade, buscando atender consumidores nos mercados mais exigentes.
Além disso, o governo brasileiro tem intensificado medidas de fiscalização ambiental, rastreabilidade e combate ao desmatamento ilegal. Essas ações visam reforçar a imagem positiva do agronegócio nacional no exterior, especialmente em mercados que valorizam práticas sustentáveis.
Impactos comerciais
Especialistas avaliam que a decisão do Carrefour França pode ser interpretada como um reflexo do protecionismo agrícola europeu, que frequentemente apresenta resistência aos produtos agropecuários sul-americanos. A suspensão da carne do Mercosul, contudo, não representa um embargo oficial da União Europeia, mas levanta questões sobre as dificuldades impostas a produtos de fora do bloco europeu.
"Essa decisão parece mais uma tentativa de proteger produtores locais do que uma questão ambiental legítima. É importante que o Mercosul adote uma posição coordenada para demonstrar a qualidade de seus produtos e evitar precedentes que possam afetar outros mercados", afirma Marcos Jank, especialista em agronegócio e comércio internacional.
Próximos passos
O Brasil e os demais países do Mercosul devem intensificar o diálogo com representantes comerciais e reforçar campanhas que promovam a qualidade e sustentabilidade de seus produtos. Para muitos analistas, a situação exige uma resposta diplomática coordenada para mitigar os possíveis impactos comerciais e de imagem.
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