COP 29: Financiamento Global e Conflitos de Interesses
A COP 29, realizada em Baku, reforçou a importância do financiamento climático e discutiu metas globais para mitigar a mudança climática, mas enfrentou tensões e desafios.
A 29ª Conferência das Partes (COP 29), realizada em Baku, Azerbaijão, encerrou-se em 24 de novembro sob a sombra de expectativas parcialmente atendidas e disputas acirradas sobre financiamento climático e compromissos internacionais. Com a participação de representantes de mais de 190 países, o evento buscou avançar na agenda global para conter o aquecimento global e seus impactos. Contudo, as tensões entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento evidenciaram o desafio de equilibrar interesses econômicos com as urgências ambientais.
Marcello Rodante, advogado especializado em mudança climática e políticas públicas, analisou os resultados da conferência e destacou o seu papel. "A COP é o único fórum global onde se discute de maneira estruturada como os países devem agir para lidar com a crise climática, que afeta o mundo inteiro e não respeita fronteiras," afirmou.
O Papel Central do Financiamento Climático
Um dos principais pontos de debate na COP 29 foi o estabelecimento de um fundo climático de 300 bilhões de dólares por ano, com a meta de alcançar 1,3 trilhões anuais até 2035. Esse montante será destinado a três pilares fundamentais:
Mitigação: Reduzir emissões de gases de efeito estufa por meio de iniciativas como transição energética, conservação ambiental e reflorestamento.
Adaptação: Preparar regiões vulneráveis para lidar com os impactos do clima, como enchentes, secas e aumento do nível do mar.
Perdas e danos: Criar um fundo para reparar prejuízos causados por eventos climáticos extremos, especialmente em países menos desenvolvidos.
Rodante explicou a importância do financiamento global para que as metas sejam atingidas. "Os países em desenvolvimento, que frequentemente enfrentam os maiores impactos, precisam de suporte financeiro para implementar medidas que reduzam emissões e aumentem sua resiliência climática," destacou.
Entretanto, a aprovação do fundo não foi livre de conflitos. Inicialmente proposto em 250 bilhões de dólares, o valor foi reajustado após intensas negociações, que se estenderam dois dias além do previsto. Apesar do acordo, algumas nações expressaram insatisfação, principalmente em relação à promessa de alcançar a meta de 1,3 trilhões de dólares no futuro.
A Presença Polêmica da Indústria de Combustíveis Fósseis
Outro tema que gerou controvérsias foi a expressiva participação de representantes da indústria de petróleo, gás e carvão. A delegação de empresas do setor foi a maior registrada em uma COP, o que provocou críticas de ambientalistas e líderes como o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore. "Há um paradoxo evidente em permitir que os principais responsáveis pelas emissões tenham tanta influência nas decisões," afirmou Rodante, embora ele ressalte a necessidade de dialogar com todos os setores econômicos para viabilizar a transição energética.
"Essas empresas desempenham um papel econômico significativo e possuem o poder de impulsionar, ou retardar, mudanças essenciais. O desafio está em incluí-las no processo sem comprometer os objetivos climáticos," explicou.
Expectativas para a COP 30 no Brasil
A próxima edição da conferência, marcada para ocorrer em Belém, no Brasil, traz uma perspectiva promissora. Localizada na região amazônica, a COP 30 terá a oportunidade de colocar a maior floresta tropical do mundo no centro das discussões climáticas globais.
Durante a COP 29, o Brasil apresentou metas ambiciosas, como a redução de 67% das emissões de gases de efeito estufa até 2035, em comparação com os níveis de 2005. Marcello Rodante acredita que o evento em solo brasileiro será de alta relevância para consolidar o papel do país como líder nas discussões ambientais. "Ter a conferência na Amazônia é um marco. Será um momento para reforçar o compromisso do Brasil com a sustentabilidade e com os acordos globais," disse.
Desafios Persistentes e a Distância da Pauta Climática
Apesar dos avanços, a COP 29 deixou clara a dificuldade de traduzir acordos em ações concretas. Rodante destacou a ausência de chefes de estado de países importantes e o impacto de conflitos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia, que dividiram as atenções. Além disso, ele apontou o distanciamento da pauta climática em relação à população em geral.
"Para muitas pessoas, as mudanças climáticas ainda parecem algo distante, difícil de compreender e de conectar com o dia a dia," afirmou. "Essa desconexão é um dos maiores desafios para engajar a sociedade e pressionar governos a tomarem decisões mais assertivas."
O Legado da COP 29 e o Caminho Adiante
A COP 29 reafirmou a necessidade de uma abordagem global e integrada para enfrentar as mudanças climáticas, mas também ressaltou as dificuldades de avançar em um cenário de interesses conflitantes. O evento em Baku deixa como legado a promessa de maior financiamento, mas também a responsabilidade de transformar palavras em ações concretas.
Com a COP 30 no Brasil, o mundo terá uma nova oportunidade de intensificar a luta contra a crise climática, trazendo a Amazônia como símbolo da urgência em equilibrar desenvolvimento econômico e preservação ambiental. "O desafio do século XXI está em evitar que a humanidade pague o preço de decisões equivocadas ou atrasadas," concluiu Rodante.
COMENTÁRIOS