Com avanços significativos em pesquisa e tecnologia, o sorgo-biomassa vem se consolidando como uma alternativa sustentável para a geração de energia no Brasil. Os testes mais recentes, realizados pela Embrapa em parceria com a empresa Calmais, revelam que essa gramínea pode substituir até 66% da madeira em processos industriais sem comprometer o poder calorífico, oferecendo uma opção viável para reduzir a dependência de fontes de energia não renováveis.

Compactação e vantagens logísticas

Para superar os desafios de transporte e armazenamento da biomassa, a Embrapa tem investido em soluções como a densificação em briquetes e pellets. Segundo a pesquisadora Marina Morales, da Embrapa Florestas, “a compactação reduz o volume da biomassa, aumentando a quantidade de material por metro cúbico e otimizando a logística”. Além disso, a secagem prévia do sorgo-biomassa melhora o desempenho energético e facilita sua utilização industrial.

Os briquetes e pellets obtidos a partir do sorgo apresentam baixos níveis de cinzas (menos de 3%) e podem ser queimados puros ou em misturas com outras biomassas. A mescla recomendada pela Embrapa — 66% de briquetes de sorgo e 34% de cavaco de madeira — tem apresentado resultados energéticos equivalentes à queima de madeira tradicional.

Produção e adaptação

A versatilidade do sorgo-biomassa é um dos seus principais atrativos. O híbrido BRS 716, desenvolvido pela Embrapa, destaca-se pela alta produtividade, adaptabilidade a diferentes climas e solos, e ciclo curto de produção, com colheita em até 180 dias. Essas características tornam o cultivo dessa gramínea economicamente viável e ambientalmente sustentável.

Segundo Flavio Tardin, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, o desenvolvimento do sorgo-biomassa começou em 2014, em resposta à necessidade de alternativas à madeira em Mato Grosso. “Com lavouras de alto retorno econômico, como soja e milho, era inviável propor florestas energéticas que levam até seis anos para serem colhidas. O sorgo-biomassa, por sua vez, oferece uma solução rápida e eficiente”, explicou.

Parcerias industriais

A empresa Calmais, parceira da Embrapa, tem investido na produção de sorgo-biomassa para alimentar suas fábricas de cal, utilizando briquetes densificados. Antônio Holanda Neto, proprietário da empresa, destacou que a gramínea se adaptou bem às condições da região, onde outras culturas, como o eucalipto, enfrentam dificuldades. “O sorgo-biomassa é menos exigente em água e tolerante ao estresse hídrico, o que nos ajuda a minimizar riscos”, comentou.

Além disso, a Calmais tem testado o uso do sorgo combinado com outras biomassas residuais, como cascas de coco e castanha de caju, ampliando as possibilidades de uso e eficiência energética. A empresa planeja expandir os testes em suas fábricas e integrar o sorgo-biomassa em sua matriz energética.

Perspectivas para o setor

O Brasil, um dos maiores consumidores de biomassa para geração de energia, enfrenta pressões para substituir combustíveis fósseis por alternativas renováveis. Nesse cenário, o sorgo-biomassa se apresenta como uma solução estratégica. No entanto, a consolidação dessa cultura como fonte energética depende de investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento, além de parcerias com indústrias e cooperativas.

Para Marina Morales, o potencial do sorgo-biomassa vai além da substituição da madeira. “Com um ciclo de crescimento curto e alta produtividade, ele pode garantir segurança energética e sustentabilidade, mesmo diante de desafios climáticos ou escassez de madeira”, destacou.

Com avanços tecnológicos e maior aceitação no mercado, o sorgo-biomassa tem o potencial de transformar o cenário energético brasileiro, promovendo uma matriz mais limpa e sustentável para o País.