A Fazenda Bom Jardim Lagoano, em Montividiu-GO, recebeu no último dia 27 de novembro de 2024 o 2º Dia de Campo do Projeto Regenera Cerrado. Reunindo mais de 170 produtores de diferentes estados brasileiros, o evento foi dedicado à disseminação de práticas regenerativas, com foco no uso de bioinsumos, controle biológico de pragas e conservação de biodiversidade.

Com uma estrutura que incluía seis estações demonstrativas, os participantes tiveram a oportunidade de aprender técnicas para a produção on farm de fungos e bactérias como agentes de controle biológico. Outras temáticas abordaram o manejo correto de bioinsumos, o papel das abelhas na polinização e os benefícios ambientais e econômicos de integrar vegetação nativa ao sistema produtivo.

A programação científica foi enriquecida por uma palestra conduzida por pesquisadores da Embrapa – Cenargen e Embrapa Soja, que detalharam o uso de fungos e macrorganismos no controle biológico de insetos, oferecendo soluções práticas para desafios enfrentados por produtores.

Práticas regenerativas na visão dos participantes

Reginaldo Batista, produtor de Pontalina-GO, foi um dos participantes impactados pelo evento. Ele já adota práticas como plantio direto e compostagem, mas revelou que o dia de campo ampliou sua compreensão sobre os potenciais da agricultura regenerativa.

"Essas técnicas vão além do manejo básico que já utilizo. A produção de bioinsumos na propriedade e a promoção da biodiversidade são estratégias viáveis que beneficiam não só o controle de pragas, mas também a saúde do solo e a produtividade. Saio daqui com mais clareza sobre como implementar essas ideias no meu trabalho", afirmou.

Evidências científicas e benefícios comprovados

Eliana Fontes, pesquisadora da Embrapa e coordenadora de Entomologia no Projeto Regenera Cerrado, apresentou os avanços alcançados pela iniciativa. Segundo ela, os estudos mostraram que produzir agentes de controle biológico na propriedade é uma alternativa eficaz para reduzir o uso de defensivos químicos e manter o equilíbrio ecológico.

"Conseguimos demonstrar que essas práticas promovem a conservação de insetos essenciais para o sistema agrícola, como predadores, parasitoides e microrganismos que controlam naturalmente as pragas. Além disso, áreas com maior diversidade vegetal favorecem a presença de polinizadores, como abelhas, o que contribui diretamente para a produtividade da soja. Esses dados fortalecem a importância de integrar biodiversidade à gestão agrícola", detalhou a pesquisadora.

O uso de vegetação nativa, segundo Eliana, também atua como um reservatório natural para insetos benéficos, permitindo sua atuação contínua no ecossistema agrícola. Isso reduz a dependência de insumos químicos e cria um sistema mais resiliente às mudanças ambientais.

Produtores e pesquisadores em diálogo direto

Adriano Cruvinel, anfitrião do evento e produtor rural, destacou a relevância do contato direto entre teoria e prática proporcionado pelo dia de campo. "Os produtores precisam ver como essas práticas funcionam no campo para entender sua aplicação e eficácia. Esse tipo de interação permite que o conhecimento científico se conecte à nossa realidade no dia a dia", afirmou.

Além disso, Adriano mencionou que a troca de experiências entre os participantes contribuiu para uma visão mais ampla e integrada da agricultura regenerativa. “É uma oportunidade de aprender com os erros e acertos dos outros e adaptar as técnicas à realidade de cada propriedade.”

Agricultura regenerativa e sustentabilidade em pauta

Jorge Nascimento Gustavo, analista de sustentabilidade da Cargill, afirmou que a alta procura pelo evento demonstra o interesse crescente por práticas mais sustentáveis. Ele explicou que, ao aproximar os produtores das técnicas regenerativas, o Regenera Cerrado reforça a viabilidade dessas práticas e estimula sua adoção em larga escala.

"Nosso objetivo é transformar a agricultura regenerativa em uma abordagem padrão na produção agrícola. Ao mostrar os resultados na prática, tornamos essa visão mais acessível e realista para os produtores. Essa troca é essencial para consolidar um futuro produtivo e sustentável", ressaltou.

Sobre o Projeto Regenera Cerrado

Criado pelo Instituto Fórum do Futuro em 2022, o Regenera Cerrado busca disseminar práticas regenerativas apoiadas por validação científica, com aplicação inicial em culturas como soja e milho. O projeto, patrocinado pela Cargill e operacionalizado pelo Instituto BioSistêmico, conta com a colaboração de instituições renomadas, como Embrapa, Epamig, UFLA e Unicamp.

Com o compromisso de aliar sustentabilidade e produtividade, o Regenera Cerrado pretende criar um modelo agrícola que sirva de exemplo para o Brasil e o mundo, respeitando as particularidades do Cerrado e promovendo o equilíbrio entre eficiência econômica e conservação ambiental.