Rentabilidade dos Armazéns Gerais: investimento estratégico no Agro
Especialista analisa os desafios e oportunidades econômicas dos armazéns gerais no Brasil, destacando rentabilidade e estratégias de gestão no setor.
O déficit de armazenagem no Brasil, atualmente estimado em 56 milhões de toneladas, segue como um dos principais entraves para o agronegócio. Silomar Cabral Faria, especialista em armazenagem de grãos, destacou em entrevista ao Agro e Prosa os desafios e oportunidades associados ao tema, abordando desde os aspectos técnicos até as estratégias econômicas para garantir a sustentabilidade e a rentabilidade dessas estruturas.
De acordo com Faria, o crescimento da produção agrícola brasileira não tem sido acompanhado pela ampliação da capacidade de armazenagem. "A produção avança em ritmo acelerado, tanto pela expansão de área quanto pelo aumento de produtividade, mas os investimentos em armazenagem ainda são tímidos", observou. Esse cenário resulta em gargalos durante a colheita, impactando diretamente os custos e os ganhos dos produtores.
Investimento Estratégico e Retorno Financeiro
Embora a construção de armazéns envolva custos elevados, a rentabilidade pode ser significativa. Faria explicou que, em média, um produtor com área acima de mil hectares pode atingir o equilíbrio financeiro do investimento em até sete anos. "O payback depende da escala de produção, mas, com o depósito das safras e safrinhas, o retorno tende a ser viável nesse período", afirmou.
Os ganhos vão além da questão financeira. Entre os benefícios, Faria destacou a redução de custos com frete, maior autonomia para negociar o grão e a possibilidade de melhorar a produtividade ao reduzir a dependência de filas em armazéns terceirizados, especialmente em períodos de alta demanda.
Fatores que Influenciam a Rentabilidade
Entre os aspectos que impactam a viabilidade econômica, o especialista destacou o preço dos grãos como um dos fatores determinantes. "A relação de troca, ou seja, quantas sacas são necessárias para pagar o custo do armazém, é um indicador crucial para o sucesso do empreendimento", explicou. Além disso, ele reforçou a importância de planejar a estrutura de forma modular, permitindo que o produtor amplie a capacidade à medida que a produção cresce.
Outro ponto ressaltado foi a necessidade de licenciamento e planejamento adequado. "A escolha do local para a construção, com análise do terreno e cumprimento das normas ambientais, é essencial para evitar problemas futuros", pontuou.
Armazéns como Solução Estratégica
Faria defendeu que o investimento em armazenagem é uma alternativa para mitigar os impactos das sazonalidades de preços e clima. "Com o armazém na propriedade, o produtor pode encurtar a janela de colheita e plantar a safrinha no período ideal, o que reflete diretamente na produtividade e na qualidade do grão", afirmou.
Ele também destacou os ganhos indiretos, como a maior previsibilidade na gestão da safra e o acesso a melhores preços na venda de grãos disponíveis. "Armazéns bem geridos minimizam perdas e permitem ao produtor negociar de forma estratégica", acrescentou.
Cenários e Perspectivas
Apesar dos desafios, como a burocracia no acesso a linhas de crédito, o especialista destacou a existência de programas como o FCO e o PCA, que oferecem condições para financiar projetos de armazenagem. "Embora o processo seja complexo, o investimento em armazéns é uma solução que agrega valor à cadeia produtiva e fortalece o agronegócio brasileiro", concluiu.
A ampliação da capacidade de armazenagem no Brasil, além de suprir o déficit atual, é vista como uma necessidade estratégica para manter o país competitivo no mercado global de grãos.
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