Cooperativismo pode ser solução para pequenos pecuaristas
Estudo da Agroven e MIT Sloan aponta tecnologias, gestão e sustentabilidade como eixos centrais para o futuro da pecuária brasileira.
Um estudo recente desenvolvido pela Agroven, em parceria com a MIT Sloan Management Review Brasil, traz à tona os principais desafios e oportunidades que definirão o futuro da pecuária no Brasil. A pesquisa, conduzida ao longo de quatro meses, investigou tendências globais e locais do setor, entrevistando especialistas e representantes de associações pecuárias, como Gabriel Cid, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).
De acordo com Silvio Passos, presidente do Conselho da Agroven, o setor enfrenta uma "segunda grande onda de transformação tecnológica", que combina inovações biodigitais – como inteligência artificial, robótica e blockchain – com processos sustentáveis. "O Brasil precisa abraçar essas novas tecnologias para se manter como líder global em produção agropecuária", destacou Passos.
A crescente demanda mundial por proteína animal é um dos fatores-chave para o setor. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), o consumo global de proteínas deve aumentar 70% até 2050, impulsionado principalmente por países em desenvolvimento, como a China. O desafio, aponta Passos, é como atender essa demanda sem aumentar a área de pastagem.
"Precisamos produzir mais utilizando menos terra, o que exige tecnologias como a recuperação de pastagens degradadas e melhores práticas de manejo", afirmou. Hoje, aproximadamente 60% das pastagens brasileiras apresentam algum nível de degradação, segundo dados do IBGE e da Embrapa.
Outro ponto relevante é a questão ambiental. O mercado global, especialmente o europeu, tem exigido processos mais sustentáveis para a carne exportada. Apesar disso, Passos alerta que a maior parte da produção pecuária é destinada ao mercado interno. "Setenta por cento da carne produzida no Brasil é consumida aqui. Precisamos evoluir para atender demandas externas e garantir qualidade ao mercado interno", reforçou.
A gestão como ponto fraco
Um dos grandes entraves para a evolução do setor é a baixa adoção de tecnologias de gestão, especialmente entre os micro e pequenos pecuaristas. No Brasil, cerca de 90% dos produtores são microprodutores, sendo responsáveis por 30% da produção total. "Muitos ainda utilizam práticas rudimentares, sem acesso a softwares de gestão ou capital para investimentos", observou o presidente da Agroven.
A limitação no uso de tecnologias impacta também a utilização de genética aprimorada. Dados apontam que apenas 30% dos animais nascidos no país são fruto de processos genéticos como inseminação artificial. O restante provém do chamado "boi de boiada", com baixo potencial produtivo.
"Essa é uma área com grande potencial de avanço", enfatizou Passos. "Com mais acesso a recursos, o setor pode aumentar consideravelmente a produtividade e a eficiência."
O estudo também destaca o cooperativismo como uma possível solução para superar as limitações enfrentadas pelos pequenos produtores. Passos citou o exemplo do setor cafeeiro, onde cooperativas têm desempenhado um papel relevante na organização de produtores, acesso a mercados e implantação de tecnologias.
"As cooperativas poderiam ser o caminho para dar escala e oferecer ferramentas de gestão aos micropecuaristas", disse. "Elas também podem contribuir para a capacitação e qualificação desses produtores."
A pesquisa indicou, ainda, uma renovação geracional na pecuária. Jovens produtores, mais qualificados e abertos à tecnologia, estão assumindo os negócios familiares, trazendo novas perspectivas ao setor. "Com a adoção de novas tecnologias e um olhar mais moderno, essa nova geração tem potencial para transformar a pecuária brasileira", concluiu Passos.
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