As perspectivas para o agronegócio brasileiro em 2025
A CNA projetou um crescimento de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em 2025.
Por: Letícia Moura
Na segunda quinzena de dezembro, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), principal entidade representativa dos produtores rurais brasileiros, projetou um crescimento de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em 2025. Segundo a CNA, essa recuperação será impulsionada pelo esperado aumento na produção de grãos, pelo avanço da indústria de insumos agropecuários e pelo fortalecimento do setor agroexportador.
A entidade projeta uma desaceleração nos preços dos alimentos, com alta de 5,75% em 2025, comparada a uma inflação de 8,49% neste segmento em 2024, devido à recuperação da safra agrícola. À vista disso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve reduzir para 4,59% ao ano, ainda acima do teto da meta de inflação de 4,50% para o próximo ano.
Retrospectiva analítica dos indicadores de 2024
A estimativa recente surge como um alento em meio às sucessivas quedas observadas nos últimos 12 meses no PIB do Agronegócio brasileiro. Dados levantados pela Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) , da Esalq/USP, revelam que, em 2024, os segmentos do agronegócio foram fortemente impactados pela redução do valor bruto da produção (VBP).
O declínio no agronegócio foi principalmente causado pela queda nos preços dos produtos agrícolas e pela redução na produção, especialmente nos setores de insumos e produção primária. Os agrosserviços apresentaram retração de 2,74%, com uma queda de 5,39% nos serviços de base agrícola, enquanto os de base pecuária cresceram 3,78%. O setor agrícola enfrentou dificuldades devido à queda nos insumos e produção primária, enquanto o setor pecuário teve crescimento, impulsionado pela maior produção ao longo de toda a cadeia.
Além disso, convém ressaltar que os fatores climáticos tiveram um impacto significativo no desempenho do agronegócio em 2024, contribuindo para a queda de vários segmentos do setor. A seca prolongada, que atingiu diversas regiões produtivas, e as chuvas excessivas no Rio Grande do Sul geraram um desequilíbrio nas condições ideais para a produção agrícola. Esses eventos climáticos adversos afetaram diretamente a produtividade das culturas, levando à redução da oferta de produtos agrícolas essenciais, como grãos e insumos.
Além disso, a escassez de água em algumas regiões brasileiras prejudicou o ciclo de diversas lavouras, resultando em uma menor colheita e, consequentemente, na redução do Valor Bruto da Produção (VBP). O impacto da seca foi ainda mais acentuado em setores que dependem da regularidade das safras, como a produção primária e os insumos agrícolas, que sofreram perdas tanto em volume quanto em qualidade.
Apesar de um ano repleto de desafios e condições climáticas extremas, o agro brasileiro se impôs com sua resiliência inabalável, fechando a competência de 2024 com um crescimento de 2% no PIB do setor . Esse desempenho, conquistado frente a adversidades, reafirma a importância do agronegócio para a economia do país e a notável capacidade do setor em se adaptar, superar obstáculos e prosperar, mesmo nas mais difíceis circunstâncias.
Quais são as perspectivas para o futuro próximo?
O papel do agronegócio como segmento de destaque na economia nacional tem se reafirmado e ampliado nas últimas décadas, com participação do Produto Interno Bruto (PIB), tendo, no ano de 2023, a participação do setor atingindo 23,8%, mesmo se tratando de um triênio de queda no preço das commodities, custos de produção elevados e outros fatores que têm forçado a queda do PIB do agronegócio.
Mesmo no cenário desafiador da pandemia, o agronegócio brasileiro soube se destacar, alicerçado pela valorização das commodities e por um expressivo avanço na produtividade. Em 2020, o setor foi responsável por movimentar R$ 1,98 trilhão, correspondendo a 27% do PIB nacional, com a agricultura dominando esse montante, com 70% (R$ 1,38 trilhão), enquanto a pecuária somou 30% (R$ 602,3 bilhões), segundo dados do CEPEA/USP e CNA. Esses números evidenciam, novamente, a consistência e importância do agronegócio como um dos pilares centrais da economia brasileira.
Para 2025, os especialistas estimam um aumento de 8,2% na produção de grãos, com a safra alcançando 322 milhões de toneladas. Esse crescimento, embora robusto, deverá ocorrer em um cenário de preços ainda pressionados para as commodities, reflexo do reequilíbrio das safras globais. As carnes, por sua vez, são uma exceção, com previsão de leve retração de 3% devido à retenção de fêmeas no abate, estratégia que tende a equilibrar a oferta futura .
Além disso, o histórico acordo firmado entre Mercosul e União Europeia traria vantagens significativas para o Brasil, como aumento de 0,46% no PIB até 2040 (equivalente a US$ 9,3 bilhões), ampliação de investimentos e ganhos na balança comercial. O acordo elimina até 95% das tarifas entre os blocos ao longo dos próximos anos. Isso significa que produtos brasileiros, como carne, soja e café, poderão entrar no mercado europeu com menos custos e mais competitividade. Em contrapartida, insumos tecnológicos da Europa chegarão ao Brasil com preços mais acessíveis.
Além desse recente acordo, é válido mencionar que o país tem reforçado sua posição como fornecedor confiável e sustentável, não apenas para a União Europeia, mas também para outras economias de peso como a China. À vista disso, espera-se que novos acordos comerciais, como o que recentemente abriu portas para produtos brasileiros no mercado chinês , ampliem significativamente as exportações nacionais.
A diversificação de mercados é uma das grandes apostas para 2025, permitindo ao Brasil consolidar e expandir sua presença internacional, especialmente em segmentos específicos, como uvas, gergelim e farinha de peixe. Essa estratégia fortalece as relações comerciais, além de ampliar as oportunidades para os produtores brasileiros, elevando sua competitividade no comércio global.
Entretanto, esse otimismo produtivo esbarra em desafios significativos. Barreiras comerciais, como as impostas pela nova legislação europeia sobre desmatamento e os subsídios agrícolas na União Europeia, podem colocar em xeque a competitividade do Brasil no mercado global. Paralelamente, tensões geopolíticas, como a guerra no Oriente Médio, encarecem o transporte marítimo e ampliam os custos logísticos.
No front interno, a inflação acima da média e a possível alta na taxa Selic ameaçam encarecer o crédito agrícola, essencial para sustentar a produção. A necessidade de fortalecer o seguro rural ganha destaque como ferramenta indispensável para mitigar riscos climáticos e financeiros, mas os recursos alocados, atualmente em R$ 1,7 bilhão, estão aquém do ideal, estimado em R$ 4 bilhões.
O seguro rural é uma ferramenta financeira que permite ao produtor rural, seja pessoa física ou jurídica, minimizar prejuízos causados por fatores de risco, especialmente climáticos, ao recuperar parte do capital investido em sua produção. Por meio de uma apólice, o agricultor pode proteger sua lavoura contra eventos adversos, como seca, geadas, excesso de chuvas, entre outros.
No Brasil, o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), coordenado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, subsidia parte do custo da contratação do seguro, tornando-o mais acessível. Segundo a CNSeg, a procura por esse seguro pecuário registrou um aumento de 71,9% entre janeiro e maio de 2024, com arrecadação de R$ 54,4 milhões . Esse crescimento, por sua vez, reflete a preocupação dos produtores com mudanças climáticas, elevação nos custos de produção e riscos sanitários.
Portanto, em conclusão, esses elementos, em sua intersecção, demonstram que o futuro do agronegócio não repousa apenas sobre a estabilidade climática, mas também sobre a construção de políticas públicas sólidas e a habilidade do setor de se adaptar e prosperar em um ambiente econômico cada vez mais complexo e competitivo.
*Letícia Moura é advogada especialista em reestruturação financeira da banca João Domingos Advogados.
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