Seca impacta lavouras de café e eleva preços globais
Seca prolongada afeta lavouras de café no Brasil, reduz produção e impulsiona preços globais, com impacto direto no bolso do consumidor.
A seca prolongada que atingiu várias regiões do Brasil em 2023 teve um grande impacto nas lavouras de café, especialmente em áreas tradicionais como a Alta Mogiana, no interior paulista. Rafael Stefani, produtor de café em Ribeirão Corrente (SP), detalhou as dificuldades enfrentadas por cafeicultores e as consequências para o mercado internacional.
"Foram seis meses sem chuva, o que gerou um estresse hídrico gigantesco nas plantas, resultando em desfolhamento intenso e comprometendo a florada e o fruto", afirmou Stefani. A seca, que afetou a qualidade e a quantidade do café produzido, acontece em um cenário já marcado por adversidades climáticas nos últimos anos, incluindo geadas severas em 2021.
Ribeirão Corrente, localizada na Alta Mogiana, é reconhecida pela produção de cafés especiais graças ao clima e à altitude favoráveis. Contudo, como outras regiões produtoras, sofreu com a falta de chuvas. Para muitos produtores, a irrigação tem sido uma alternativa indispensável para enfrentar as incertezas climáticas. "A irrigação traz um diferencial, mas eleva os custos de produção. Por outro lado, perder uma safra inteira pode custar muito mais caro", explicou o produtor.
Impacto nos preços e na cadeia produtiva
O Brasil, maior exportador de café do mundo, é responsável por cerca de 30% do consumo global. Essa predominância no mercado torna o país um termômetro para os preços internacionais. Com a expectativa de uma safra menor em 2025, o preço do café já subiu expressivamente. De acordo com Stefani, a saca de café tipo 6, que há menos de um ano custava cerca de R$ 1.000, hoje é negociada por R$ 2.300.
"O mercado está precificando essa redução na oferta. Desde fevereiro, os preços vêm subindo de forma acelerada, reflexo direto da menor produção brasileira", destacou o cafeicultor. Para o consumidor final, isso significa preços mais altos nas prateleiras, especialmente para cafés de qualidade superior.
Além do impacto na produção, a seca também expôs desigualdades regionais. Áreas que utilizam tecnologia avançada, como sistemas de irrigação, tiveram melhores resultados, enquanto regiões sem esse recurso enfrentaram perdas severas.
"Regiões como o Espírito Santo, que dependem da irrigação, conseguiram segurar melhor a produção. Aqui na Alta Mogiana, estamos investindo para que todas as novas lavouras sejam irrigadas", afirmou Stefani.
Consequências para o consumidor
A alta nos preços internacionais já está se refletindo no varejo, e a tendência é de aumento contínuo até que o mercado tenha clareza sobre o tamanho da próxima safra brasileira. "A cada mês, as torrefações estão repassando esses custos. Quem gosta de café especial deve se preparar para pagar mais caro", alertou o produtor.
Apesar disso, Stefani acredita que o amor do brasileiro pelo café continuará sustentando a demanda. "O brasileiro tem uma ligação cultural com o café. O que pode mudar é o consumo de forma mais consciente, evitando desperdícios", concluiu.
A seca de 2023 deixou marcas profundas na cafeicultura brasileira, e as consequências ainda serão sentidas em 2024 e 2025. O desafio para os produtores, além de enfrentar as condições climáticas adversas, será lidar com os custos crescentes para garantir a qualidade que coloca o Brasil no topo da produção mundial de café.
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