A medição da permeabilidade da água no solo é um fator essencial para a agricultura de precisão, planejamento hídrico e gestão ambiental. Até então, os equipamentos disponíveis eram analógicos e importados, demandando operadores altamente especializados. Com o lançamento do SoloFlux, o Brasil passa a contar com uma solução digital nacional, trazendo eficiência e praticidade ao setor.

Desenvolvido por meio de uma parceria entre a Embrapa Solos (RJ), o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e a Falker Automação Agrícola, o SoloFlux é o primeiro equipamento digital e automatizado para medição da condutividade hidráulica do solo saturado. Seu funcionamento permite a captura, transmissão e leitura de dados de forma remota via Bluetooth e USB, com armazenamento em nuvem e exibição em interface gráfica.

Precisão e agilidade na medição

O SoloFlux otimiza o tempo de medição e reduz a necessidade de intervenção humana. Em vez de registrar dados manualmente a cada um ou três minutos, como ocorre nos modelos tradicionais, o novo dispositivo realiza a coleta de forma automatizada, fornecendo instantaneamente a condutividade hidráulica do solo após a avaliação.

Segundo Wenceslau Teixeira, pesquisador da Embrapa Solos, a nova tecnologia amplia a capacidade de análise em campo. “Antes, o operador precisava dedicar tempo exclusivo à medição. Agora, com a automação, ele pode realizar outras atividades enquanto o equipamento faz a coleta dos dados”, afirma.

Uso e aplicações

A ferramenta é indicada para estudos que envolvem drenagem, projetos de irrigação e controle da infiltração da água no solo. Seus dados são essenciais para prever o comportamento do solo em condições climáticas extremas, auxiliar na seleção de locais para aterros sanitários e monitorar a lixiviação de nutrientes e agrotóxicos.

O pesquisador Geraldo Cernicchiaro, do CBPF, destaca a importância da inovação. “O SoloFlux permite analisar mais pontos em menos tempo, facilitando estudos sobre a variabilidade espacial dos solos. Isso torna o processo mais eficiente e acessível”, explica.

A ideia do SoloFlux surgiu a partir de um estudo sobre recarga de aquíferos na ilha de São Luís, no Maranhão. Durante as medições, Wenceslau Teixeira percebeu as limitações do permeômetro de Guelph, que exigia acompanhamento constante. A partir dessa necessidade, ele e Cernicchiaro iniciaram o desenvolvimento do protótipo, que evoluiu até o lançamento do SoloFlux.

“Foi um processo de tentativa e erro. Testamos diferentes abordagens até chegarmos à solução de medir o vácuo no solo, que se mostrou mais eficaz. Depois, buscamos parcerias para viabilizar a produção e comercialização do equipamento”, relata Teixeira.

Parceria entre pesquisa e mercado

A Falker Automação Agrícola assumiu a produção e comercialização do SoloFlux, garantindo que a tecnologia chegue ao mercado. Para o CEO da empresa, Marcio Albuquerque, colaborações entre instituições de pesquisa e empresas privadas são essenciais para inovação.

“Quando a pesquisa acadêmica se transforma em solução comercial, todos ganham: os pesquisadores, a indústria e o mercado. O SoloFlux é um exemplo de como a ciência pode gerar impacto real na produção agrícola”, avalia Albuquerque.

O SoloFlux já está licenciado para 16 países, incluindo mercados com forte demanda por agricultura irrigada. Seu diferencial é a combinação de portabilidade, automação e integração digital, permitindo um monitoramento hídrico mais preciso e eficiente.

Com a crescente necessidade de otimização do uso da água na produção agropecuária, equipamentos como o SoloFlux tendem a se tornar ferramentas indispensáveis no manejo agrícola e na preservação dos recursos hídricos.