Energia renovável: como a mandioca pode gerar biogás e fertilizante
Pesquisadora sergipana desenvolve sistema para transformar resíduos da mandioca em biogás e fertilizantes, promovendo energia limpa e economia circular.

A mandioca, cultura essencial para a agricultura familiar no Brasil, pode se tornar uma nova fonte de energia renovável e insumos agrícolas. Uma pesquisa conduzida pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP) da Universidade Tiradentes (Unit) estudou o uso da manipueira — resíduo líquido da mandioca — na produção de biogás e fertilizantes. A pesquisa, liderada pela engenheira sergipana Ianny Andrade Cruz, também explorou o impacto da adição de cascas de ovos no processo de digestão anaeróbia.
O estudo teve parte de suas pesquisas realizadas na Universidade de Sherbrooke (UdeS), no Canadá, e buscou otimizar a digestão anaeróbia desses resíduos. O biogás produzido pode ser utilizado como fonte de energia renovável, enquanto o digestato, subproduto do processo, tem potencial para ser um fertilizante orgânico.
A pesquisa se alinha ao conceito de economia circular, reduzindo impactos ambientais e gerando oportunidades econômicas para produtores rurais. "Queremos incentivar a ideia de que esse resíduo ainda pode ser transformado em uma fonte adicional de renda para os agricultores", explica Ianny. Ela destaca que a conversão de resíduos em biogás contribui para a autossuficiência energética e para a redução das emissões de gases do efeito estufa.
A pesquisa mostrou que o cálcio presente nas cascas de ovos estabiliza o processo de produção do biogás e aumenta sua eficiência. No entanto, testes com sementes de alface revelaram que o digestato ainda apresentava toxicidade, exigindo um tempo maior de tratamento antes de sua aplicação como fertilizante.
O Brasil tem alto potencial de aproveitamento de biomassa agroindustrial, e a mandioca é uma das culturas mais representativas, especialmente no Norte e Nordeste. "Nossa pesquisa veio justamente para buscar uma solução para a recuperação desses recursos, aliando a produção de energia renovável com a gestão sustentável de resíduos", afirma a pesquisadora.
Parte do estudo também se dedicou ao desenvolvimento de um sistema de monitoramento do processo de digestão anaeróbia, utilizando a tecnologia da Internet das Coisas (IoT). Isso permite maior controle sobre a produção de biogás e a qualidade do fertilizante gerado.
Ianny Andrade Cruz realizou parte de suas pesquisas no Laboratório de Tecnologias da Biomassa (BTL), na UdeS, onde fez um estágio e atualmente realiza seu pós-doutorado. "O Canadá oferece um ambiente acadêmico de excelência e incentivos à transição energética, o que me permitiu ampliar meu conhecimento e aplicar soluções sustentáveis de forma mais eficiente", destaca.
A produção de biogás a partir da manipueira representa uma alternativa viável para pequenos e médios produtores, promovendo a valorização de resíduos e impulsionando a sustentabilidade na agroindústria.
COMENTÁRIOS