As sementes crioulas são fundamentais para a autonomia dos agricultores familiares e a manutenção da biodiversidade no Semiárido brasileiro. O catálogo "Sementes da Resistência", produzido pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) em parceria com a Embrapa Alimentos e Territórios, documenta 47 variedades cultivadas por comunidades camponesas em Alagoas.

O levantamento, realizado com a participação de aproximadamente 40 famílias de 21 comunidades em cinco municípios alagoanos, busca valorizar os conhecimentos tradicionais sobre manejo, conservação e multiplicação dessas sementes. Entre as variedades catalogadas estão tipos de fava, feijão-comum, feijão-de-corda, milho, mandioca, batata-doce e abóbora, cada uma com características específicas de adaptação e usos alimentares.

A importância dessas sementes está na capacidade de resistir às condições climáticas adversas do Semiárido e na sua relevância cultural e nutricional. "As sementes crioulas representam um patrimônio genético que atravessa gerações, sendo adaptadas ao solo e ao clima da região", destaca o documento.

A iniciativa também visa fortalecer a soberania alimentar das famílias camponesas. Os bancos comunitários de sementes e as casas de sementes desempenham um papel central na distribuição e preservação dessas variedades, garantindo que os agricultores tenham acesso a material de qualidade para cultivo a cada safra.

As sementes catalogadas são nomeadas de acordo com a tradição oral e a experiência dos agricultores. Entre os exemplos documentados estão o milho "sabugo fino", conhecido pela sua alta produtividade e resistência, e a "fava manteiga", apreciada pelo sabor e pela durabilidade do grão. No caso das mandiocas, a variedade "cambadinha" se destaca na produção de farinha fina, essencial na alimentação regional.

O catálogo reforça que a preservação das sementes crioulas é uma estratégia essencial para a adaptação da agricultura familiar às mudanças climáticas e para o fortalecimento das comunidades rurais. "As trocas de sementes entre os agricultores garantem a continuidade da diversidade genética e a segurança alimentar", afirma o estudo.

Os dados reunidos no documento também apontam para a necessidade de políticas públicas que incentivem a manutenção e expansão do cultivo de sementes crioulas. Projetos de apoio técnico e financeiro são fundamentais para que essas variedades continuem sendo preservadas e multiplicadas pelas futuras gerações.