Paulo Garollo e a história do milho safrinha no Brasil
Com mais de 40 anos de experiência na cultura do milho, o engenheiro agrônomo Paulo Garollo relembra os primeiros surtos da cigarrinha e explica como o manejo integrado de pragas tem se tornado fundamental para manter a produtividade no campo.

O engenheiro agrônomo Paulo Garollo construiu uma carreira sólida e respeitada no agronegócio, com mais de quatro décadas dedicadas à cultura do milho. Especialista em fitossanidade e sistemas produtivos, ele se tornou uma referência nacional no manejo da cigarrinha-do-milho e outras ameaças à produtividade das lavouras. Além de atuar diretamente no campo, Garollo tem compartilhado seu conhecimento por meio de palestras, consultorias e participações em publicações técnicas, levando informações fundamentais para produtores de todo o Brasil e do exterior.
A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) se tornou uma das principais preocupações dos produtores brasileiros. O primeiro surto registrado com impacto econômico ocorreu em 1995, na região de Santa Helena de Goiás. Desde então, a praga tem desafiado a produção, especialmente com a expansão da safrinha. "Quando o problema ressurgiu em 2015, pouquíssimas pessoas dominavam o assunto. Como eu já havia trabalhado com a cigarrinha desde o primeiro surto, pude contribuir com informações importantes sobre o manejo", explica Paulo Garollo.
O agrônomo destaca que o crescimento da safrinha foi um dos fatores que favoreceram o aumento da incidência da cigarrinha. "Nos anos 90, o milho primeira safra tinha um peso maior na produção nacional. Com o crescimento do milho safrinha, a dinâmica da praga mudou, pois o inóculo se mantém no campo ao longo do ano", afirma. O Mato Grosso, maior produtor de milho safrinha do mundo, ilustra essa mudança, com áreas extensas cultivadas na segunda safra.
A cigarrinha é vetor dos agentes causadores do complexo de enfezamentos, comprometendo a produtividade e a qualidade do grão. O impacto financeiro tem sido significativo, exigindo estratégias de controle mais eficientes. "O manejo não pode ser feito de forma isolada. Precisamos integrar diferentes ferramentas, desde o uso de cultivares mais tolerantes até o controle químico e biológico", explica Garollo. Ele reforça que a praga não deve ser combatida apenas com aplicações de inseticidas, mas sim com um planejamento amplo que inclua o controle da vegetação voluntária e a adoção de medidas preventivas.
A história do milho safrinha no Brasil também passou por desafios financeiros. Em Goiás, Garollo foi um dos responsáveis por demonstrar ao Banco do Brasil a viabilidade econômica do financiamento para a segunda safra. "Apresentei um estudo sobre o consumo hídrico da cultura e provamos que o risco para o banco era controlado. A partir disso, o crédito foi liberado e ajudou a expandir o plantio de safrinha na região", conta.
Além do controle de pragas, Garollo alerta para o manejo correto de doenças, especialmente o complexo Bipolaris, que tem se espalhado pelo Brasil. "Não importa a região, qualquer evento sobre milho hoje vai ter perguntas sobre Bipolaris. É uma doença que exige monitoramento e estratégias adequadas de manejo, pois está impactando a produtividade", afirma. Ele enfatiza que a adoção de fungicidas precisa ser feita de maneira inteligente, considerando o contexto de cada propriedade e os desafios específicos de cada região.
A visão sistêmica da lavoura é outro aspecto fundamental. "Nematoides, compactação do solo e nutrição inadequada são fatores que podem agravar problemas sanitários. Por isso, é essencial que o agricultor avalie a lavoura como um todo e faça o manejo integrado", orienta Garollo. Ele destaca que a alta tecnologia na produção não significa apenas o uso de insumos mais caros, mas sim a eficiência no uso dos recursos. "A chave é buscar o equilíbrio nutricional e garantir que cada investimento traga retorno real na produtividade", pontua.
A interação entre planta e ambiente também influencia diretamente os resultados no campo. "Fotossíntese, radiação solar, temperatura e disponibilidade hídrica impactam diretamente a produtividade. O agricultor precisa entender esses processos para otimizar o potencial produtivo das culturas", explica Garollo. A escolha de cultivares, segundo ele, deve levar em conta não apenas o potencial genético, mas também as condições do ambiente e o histórico da área.
Com uma trajetória marcada pelo aprofundamento técnico e pela comunicação acessível, Garollo tem se tornado referência nacional em temas relacionados ao milho. "O conhecimento precisa ser compartilhado de maneira clara para que chegue a todos os produtores, independentemente do tamanho da propriedade", finaliza.
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