Gestão financeira no campo: como preparar a propriedade para enfrentar o segundo semestre
Com margens apertadas, produtores focam na gestão financeira para atravessar o segundo semestre com mais controle, segurança e rentabilidade.

O segundo semestre costuma impor novos desafios à atividade agropecuária. Seja pelo início do vazio sanitário e a preparação para a próxima safra, seja pela necessidade de cumprir compromissos financeiros assumidos no início do ano, o período exige atenção redobrada à gestão dos recursos da fazenda. Para especialistas em administração rural, a chave está no planejamento detalhado das finanças da propriedade.
“O primeiro passo é mapear todos os custos envolvidos na operação, tanto os fixos quanto os variáveis”, afirma Rafael Costa, consultor em gestão agropecuária. Segundo ele, muitos produtores ainda fazem o planejamento com base em médias ou estimativas, sem um controle histórico consolidado. “Isso dificulta a identificação de gargalos e a projeção de cenários mais realistas.”
No atual ambiente de margens estreitas, esse tipo de levantamento torna-se ainda mais necessário. A volatilidade dos preços agrícolas, especialmente em culturas como soja e milho, aliada ao aumento nos custos de insumos, exige decisões embasadas em dados concretos. Um erro de cálculo pode comprometer a rentabilidade da safra.
Outro ponto sensível é o capital de giro. Para o engenheiro agrônomo Marcelo Ribamar, que atua como consultor financeiro de propriedades no Centro-Oeste, o produtor deve manter atenção constante ao fluxo de caixa. “É comum o produtor vender boa parte da safra no início do ano, mas esquecer de provisionar os recursos necessários para a manutenção da atividade ao longo do segundo semestre. Isso leva à necessidade de buscar crédito emergencial, muitas vezes com taxas mais elevadas”, explica.
A recomendação dos especialistas é que o capital de giro seja planejado com base em um cronograma mensal de entradas e saídas. Esse planejamento permite antecipar eventuais períodos de aperto e evita o comprometimento de investimentos futuros. Além disso, facilita a negociação com fornecedores e instituições financeiras, melhorando o poder de barganha do produtor.
A análise de rentabilidade por cultura é outro aspecto da gestão financeira eficiente. Mesmo em propriedades diversificadas, é comum que o produtor não tenha clareza sobre quais atividades estão de fato gerando lucro. “Há casos em que a pecuária é mantida por tradição, mas representa prejuízo recorrente. Em outros, uma cultura secundária pode apresentar resultado mais positivo que a principal, mas passa despercebida por falta de controle individualizado”, comenta Ribamar.
Ferramentas de gestão, como planilhas específicas, softwares de controle financeiro e plataformas de análise de desempenho, têm ganhado espaço nas propriedades. Segundo Costa, o uso de indicadores como custo por hectare, margem bruta e retorno sobre o capital investido ajuda o produtor a tomar decisões mais racionais, como o redimensionamento de áreas, a substituição de culturas ou a renegociação de contratos.
A profissionalização da gestão tem avançado principalmente nas propriedades de médio e grande porte, mas há esforços para levar esse tipo de abordagem também aos pequenos produtores. Programas de capacitação e assessoria técnica voltados à administração rural têm buscado ampliar o alcance dessas ferramentas.
Com um segundo semestre que tende a manter o cenário desafiador para o agronegócio — marcado por incertezas macroeconômicas e os efeitos persistentes das condições climáticas adversas —, o planejamento financeiro torna-se um diferencial competitivo. A organização das finanças permite à propriedade maior capacidade de resposta e resiliência diante das adversidades.
“Não se trata apenas de cortar custos, mas de conhecer profundamente o negócio rural e fazer escolhas com base em dados”, conclui Costa. Segundo ele, propriedades que mantêm um sistema estruturado de gestão financeira têm mais condições de investir, inovar e se manter sustentáveis no longo prazo.
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