Agricultores do RS enfrentam colapso financeiro e climático
Produtores rurais do Rio Grande do Sul acumulam perdas bilionárias e cobram medidas emergenciais do governo diante da crise climática e financeira.

O Rio Grande do Sul enfrenta uma das maiores crises do setor agropecuário de sua história recente. Com sucessivas perdas causadas por secas e enchentes, os produtores rurais acumulam prejuízos que ultrapassam os R$ 319 bilhões, segundo estimativas da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). A entidade denuncia a ausência de respostas eficazes por parte do governo federal, enquanto cresce a pressão por medidas emergenciais, como a securitização das dívidas.
Prejuízo compromete metade do PIB gaúcho
O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, destacou em audiência na Câmara dos Deputados que as perdas acumuladas desde 2022 representam cerca de 50% do PIB estadual. Apenas neste ano, estima-se uma quebra de mais de 10 milhões de toneladas de grãos. “Estamos tecnicamente falidos”, afirmou Pereira, ao alertar que a inadimplência, embora ainda baixa (4,3%), poderá explodir sem a renegociação adequada das dívidas.
Produtores relatam desespero: "não temos mais para onde correr"
A situação no campo vai além dos números. Relatos emocionados de pequenos e médios produtores revelam o impacto humano da crise. “O produtor gaúcho está atolado em dívidas. Muitos já recorreram ao desespero extremo, com casos de suicídio registrados”, disse Luciana Gaza, produtora de soja. Ela cobrou medidas urgentes do Congresso e do governo federal, ressaltando que o crédito rural atual não atende quem já está negativado.
Sistema de crédito falho agrava o cenário
A denúncia de desenquadramento de produtores dos programas Pronaf e Pronampe é recorrente. Muitos foram empurrados para linhas de crédito com juros de mercado, tornando insustentável a manutenção das atividades agrícolas. “Os bancos não querem mais renegociar. Jogam a dívida para o produtor explodir”, resumiu Gedeão Pereira. A proposta de usar recursos do Fundo Social do pré-sal para mitigar os efeitos climáticos foi levada ao governo, mas, segundo ele, acabou sendo redirecionada para outras finalidades.
Paralisação no horizonte: “vamos parar o estado”
Diante da falta de respostas, cresce a articulação de um movimento para bloqueios de estradas e paralisações. “Essa é a última vez que viemos a Brasília pela via diplomática. Se não houver solução até junho, o Rio Grande do Sul vai parar”, alertou um representante do movimento SOS Agro RS. A crise afeta produtores de todos os portes e posições políticas, segundo os organizadores, tornando-se uma ameaça à continuidade da produção agrícola e à soberania alimentar do país.
Clima extremo exige novo modelo produtivo
As lideranças do setor alertam para a urgência em reestruturar a produção agrícola no estado, com investimentos em irrigação, correção do solo com calcário e sistemas de seguro rural eficazes. “Não é mais possível plantar e colher sem mitigação climática”, enfatizou Pereira. A proposta da Farsul é ampliar os prazos de endividamento para até 20 anos, criando margem para investimento em tecnologias resilientes ao clima.
A proposta de securitização das dívidas rurais aguarda votação no Congresso Nacional, enquanto entidades de classe e parlamentares pressionam o Executivo por uma solução política imediata.
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