A ultrassonografia de carcaça, tecnologia criada nos Estados Unidos nas décadas de 1950 e 1960, tem ganhado espaço na pecuária brasileira. O método permite a avaliação de características como marmoreio e espessura de gordura em animais vivos, promovendo uma seleção genética mais precisa.

Liliane Suguisawa, diretora da DGT Brasil, destacou em entrevista ao podcast Agro e Prosa que a tecnologia é totalmente adaptável ao sistema de criação nacional. "Consigo entrar em todas as fazendas com carro e equipamento e mapear os indivíduos com precisão", explicou.

A experiência de Shiro Nishimura

O pecuarista Shiro Nishimura, da Nelore Araponga em Rondonópolis (MT), utiliza a ultrassonografia há 12 anos. Segundo ele, a seleção de qualidade começa pela vaca matriz. "Se a vaca não tiver qualidade, o cruzamento não entregará o resultado esperado", ressaltou.

Nishimura é um dos fundadores da Confraria da Carcaça Nelore, grupo criado em 2018 que tem como objetivo selecionar e multiplicar indivíduos com alto potencial para produção de carne premium. Atualmente, os melhores touros da Confraria são avaliados em provas de eficiência alimentar realizadas pela UNESP de Botucatu (SP).

De acordo com Liliane, a pecuária brasileira já possui base genética de qualidade, mas ainda carece de padronização. Com o uso da ultrassonografia e do sêmen de touros melhoradores, é possível mudar uma geração inteira. "Clientes têm registrado entre 20% e 100% de valorização da arroba", destacou.

A metodologia, desenvolvida ao longo de 20 anos, já está pronta para ser difundida. "A Confraria colocou touros no mercado com essa genética. O pecuarista pode adquirir o sêmen e transformar seu rebanho", afirmou Liliane.

Além da seleção genética, Shiro defende a integração-lavoura-pecuária como estratégia para ganho de peso em pastejo. "Com solo corrigido, braquiária e resíduo de adubação, é possível obter até 1 kg por dia", disse.

Expansão e reconhecimento

Apesar dos avanços, a adoção da tecnologia ainda se concentra em estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. "Essa onda chegará a outras regiões. O consumidor reconhece a qualidade e paga mais por ela", avaliou Liliane.

Em 2023, a Confraria da Carcaça Nelore representou a carne zebuína de qualidade na Expointer, no Rio Grande do Sul, evento tradicionalmente dominado por raças europeias. A iniciativa simboliza a ruptura de paradigmas, como destacou Liliane Suguisawa.

Shiro Nishimura, que recebeu o Prêmio Mérito ABCZ em reconhecimento à sua trajetória, reforçou a importância do trabalho coletivo. "O prêmio é da Confraria. Nosso desafio é criar volume e constância para abastecer o mercado com carne de qualidade", afirmou.

A evolução da ultrassonografia de carcaça no Brasil representa uma transformação consistente na pecuária nacional, com impactos diretos na valorização da carne produzida nos trópicos.